Uma conversa com o bispo na Mangueira
Será apenas o terceiro desfile na elite do paticumbum - mas Leandro Vieira já se tornou o mais importante artista do carnaval carioca. O carnavalesco da Mangueira lidera os protestos contra as atitudes do bispo Marcelo Crivella em relação à festa mais importante do Rio, e vai bater doído no prefeito com o enredo que criou para a Verde e Rosa. Num intervalo da última etapa do trabalho no barracão, ele trocou dois dedos de prosa com Aydano André Motta, especialmente para a coluna:
Você assumiu o protagonismo da luta pelo carnaval quando ainda havia somente prostração e incredulidade entre os sambistas. O que está achando do atual momento, em que blocos e até outras escolas seguiram sua atitude? A tribo do samba está, afinal, reagindo?
A galera do samba está entendendo que é preciso reagir. Temos agora a consciência de que o prefeito pode perder. No Blocódromo, ele já perdeu — e a Quarta-Feira de Cinzas vai mostrar toda a capacidade de reinvenção dos artistas do Carnaval. E ele chegará à conclusão que perdeu também.
Três das 13 escolas do Grupo Especial terão enredos críticos, numa concentração inédita na história da festa. Como você avalia isso? É bom?
A possibilidade de reafirmar escola de samba como lugar para resistência e diálogo com a sociedade é fundamental. O cenário político brasileiro favorece isso e o carnaval marcou presença nesse aspecto. Fico feliz que as escolas tenham se posicionado como porta-vozes desse momento político. Estou orgulhoso.
Se o prefeito lhe chamasse para uma conversa sobre carnaval, você iria? O que diria a ele?
Certamente iria — e marcaria a conversa para um dia de samba na Mangueira, para ele ouvir os grandes sambistas da escola. Mais do que receber uma explicação, ele sentiria na pele o que é o carnaval do Rio de Janeiro.