Aos trancos e barrancos, resiste na Praça Tiradentes um dos poucos salões de bilhar remanescentes no Rio: o Guarany, na esquina com a Rua da Constituição, fundado no início do século XX e já frequentado por artistas como Noel Rosa (1910-1937) e Paulinho da Viola, 72 anos. Quando Francisco Leal, o Chico, 55 anos, comprou o salão, em 1990, havia dez mesas — duas delas de bilhar francês, aquelas sem buraco, que Heitor Villa-Lobos (1887-1959) tanto gostava de jogar. Agora são só seis, vez ou outra às moscas.
— Olha aí: 82, 94, 86, 87, 83, essa é a idade de quem vem aqui — diz Chico, apontando para uns dez clientes numa noite destas, tão assíduos que ele sabe de cor, além dos nomes, as idades. Nos áureos tempos, já houve lá cinco funcionários. Hoje, o dono faz tudo sozinho.
Os poucos jogadores de agora não retratam, nem de longe, o que já foi a sinuca no Brasil. Quando chegou ao país, no início do século XIX, era um jogo de luxo. Jogava-se snooker até nas casas da Corte. Com o passar do tempo, o bilhar se popularizou — sem perder o garbo — até chegar à sua época de ouro, nas décadas de 1950 e 1960. Os salões do Rio — e eram centenas — ficavam tão cheios que havia até barbeiro (fora os bares, claro) para quem esperava a vez.
A Praça Tiradentes era um reduto: havia lá não só o resistente Guarany, mas o luxuoso Guanabara — um em cada ponta da praça, cada um com mais de dez mesas.
O Guanabara, fundado em 1936, frequentado no passado por nomes como Mário Lago (1911-2002) e Ataulfo Alves (1909-1969) e queridinho das novelas da TV Globo (que vez ou outra ambientavam lá suas gravações), fechou há pouco mais de um ano.
— Não há renovação dos jogadores. Não sabemos até quando vamos sobreviver. Conservam-se as tradições quando há algum interesse, né? Mas qual o interesse que pode haver na sinuca? — lamenta-se Chico, que garante cerveja gelada e bilhar ao menos até 2016, quando haverá a renovação do contrato de aluguel.
Pelo visto, a tradição está pela bola 7. É pena.
trancos e barrancos, resiste na Praça Tiradentes um dos poucos salões de bilhar remanescentes no Rio: o Guarany, na esquina com a Rua da Constituição, fundado no início do século XX e já frequentado por artistas como Noel Rosa (1910-1937) e Paulinho da Viola, 72 anos. Quando Francisco Leal, o Chico, 55 anos, comprou o salão, em 1990, havia dez mesas — duas delas de bilhar francês, aquelas sem buraco, que Heitor Villa-Lobos (1887-1959) tanto gostava de jogar. Agora são só seis, vez ou outra às moscas.
— Olha aí: 82, 94, 86, 87, 83, essa é a idade de quem vem aqui — diz Chico, apontando para uns dez clientes numa noite destas, tão assíduos que ele sabe de cor, além dos nomes, as idades. Nos áureos tempos, já houve lá cinco funcionários. Hoje, o dono faz tudo sozinho.
Os poucos jogadores de agora não retratam, nem de longe, o que já foi a sinuca no Brasil. Quando chegou ao país, no início do século XIX, era um jogo de luxo. Jogava-se snooker até nas casas da Corte. Com o passar do tempo, o bilhar se popularizou — sem perder o garbo — até chegar à sua época de ouro, nas décadas de 1950 e 1960. Os salões do Rio — e eram centenas — ficavam tão cheios que havia até barbeiro (fora os bares, claro) para quem esperava a vez.
A Praça Tiradentes era um reduto: havia lá não só o resistente Guarany, mas o luxuoso Guanabara — um em cada ponta da praça, cada um com mais de dez mesas.
O Guanabara, fundado em 1936, frequentado no passado por nomes como Mário Lago (1911-2002) e Ataulfo Alves (1909-1969) e queridinho das novelas da TV Globo (que vez ou outra ambientavam lá suas gravações), fechou há pouco mais de um ano.
— Não há renovação dos jogadores. Não sabemos até quando vamos sobreviver. Conservam-se as tradições quando há algum interesse, né? Mas qual o interesse que pode haver na sinuca? — lamenta-se Chico, que garante cerveja gelada e bilhar ao menos até 2016, quando haverá a renovação do contrato de aluguel.
Pelo visto, a tradição está pela bola 7. É pena.
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