Francisco Bosco
“Os antigos latinos chamavam de Gênio o deus a que todo homem é confiado sob tutela na hora do nascimento. Por isso o dia do aniversário era sagrado, e as famílias romanas ofereciam festas em honra ao Gênio do aniversariante. Minha homenagem aqui, na data de seu aniversário, vai para o Gênio de João Bosco.
Todos sabemos que deus ele é: o deus da música (que quando encarna no Brasil sente um desejo irresistível de se fantasiar de deus da canção). Que a iconografia antiga represente o Gênio com rosto de jovem, isto é, como uma entidade que nunca envelhece, é isso o importante a compreender nessa data.
Pois nem sempre acontece assim. O Gênio é sempre jovem, mas há os que, não o honrando devidamente, perdem-no, às vezes para sempre.
Vejo, por exemplo, alguns jogadores de futebol, altamente geniais, mas que muito cedo descuidam de seu Gênio, e precocemente são abandonados por ele. Haverá algo mais triste do que perder o seu Gênio?
Pois bem, como seu filho, tenho sempre orgulho em declarar que a maior herança transmitida a mim por meu pai é o zelo, a dedicação permanente ao Gênio.
Vejam bem, não estou a me vangloriar: qualquer pessoa tem o seu Gênio. Ele é a potência em nós, a capacidade que temos de nos ultrapassar, de experimentar a suprema alegria de sermos o melhor que podemos ser.
Nasci e cresci ouvindo as escalas que meu pai fazia, todas as noites, com paciência, para esquentar os dedos antes de começar, propriamente, a tocar seu violão. Todas as noites, madrugada adentro, compondo ou ensaiando o repertório. A isso se chama honrar seu Gênio. Mas o Gênio, quanto mais genial, mais exigente. Zelar por ele requer também sacrifícios: no seu caso, quase não beber, para preservar a voz, deixar de fumar, moderar os excessos para estar sempre disponível à visitação do Gênio. Para que ele venha, por sua vez, no melhor dos seus humores.
Completam-se 70 anos, nesse dia 13, que João Bosco zela pelo seu Gênio. Todas as pessoas que o admiram, admiram, na verdade, o seu Gênio. Nada lhes importa a vitamina que ele toma de manhã, o roupão que gosta de usar em casa, as idiossincrasias de seu temperamento, em suma, o seu Eu. João Bosco é o que é por sua obra, que é obra de seu Gênio. É portanto a ele que presto minhas homenagens, como reconhecimento a tudo o que nos deu — e para que ele nunca abandone seu protegido.”