Aos 57 anos, o carioca Eduardo Cosentino da Cunha surpreendeu o Brasil. Não pela renúncia à presidência da Câmara. Mas pelo seu pranto. Sim, ele chora. Até então — mesmo entre os psiquiatras — o onipotente era visto como uma espécie rara de desalmado, aquele que não se comove nem com a própria tragédia.
A vermelhidão do rosto do deputado indica, segundo um especialista ouvido pelo escriba, que o fluido lacrimal é verdadeiro. Não foi provocado artificialmente pelo corte de uma cebola ou mesmo pela ação daquele spray que uns atores usam para fingir que estão chorando.
Ainda assim, mesmo depois do choro em rede nacional, o psiquiatra Luiz Antonio Martins continua achando que Cunha, em tese, faz lembrar um quadro de uma pessoa que sofre de sociopatia — aquele transtorno de personalidade que é caracterizado por um egocentrismo exacerbado e a ausência de sentimentos de culpa:
— Na entrevista de ontem (quinta-feira), ele estaria usando uma estratégia para escapar de algo pior. É algo que a psiquiatria chama de personalidade histriônica: ele demonstra teatralidade e dramaticidade na tentativa de comover as pessoas e sair como vítima da situação.
É aí que mora o perigo. O Brasil, como disse o historiador Evaldo Cabral de Mello, 80 anos, em entrevista à coleguinha Márcia Vieira, no ano passado, é um povo muito emotivo. “A corrupção explora muito esse aspecto. Daqui a pouco, vai estar todo mundo com pena dessas figuras envolvidas no escândalo da Petrobras que estão presas. Isso faz mal ao país.”
O pecado de Cunha não é venial, para cuja expiação basta uma lágrima sentida. Pecado sem castigo do mesmo tamanho é um convite à perpetuação da delinquência.
Como já disse Machado de Assis, nosso escritor maior: “Lágrimas não são argumentos.”