Minha vida é um palco iluminado
Dia 15, agora, completam-se 50 anos da morte do jornalista e compositor Orestes Barbosa (1893-1966). Aqui, o grande musicólogo Carlos Didier, 62 anos, escreve sobre o autor do clássico “Chão de estrelas”, em parceria com Silvio Caldas.
É muito conhecido o elogio de Manuel Bandeira ao poeta Orestes Barbosa: “Se se fizesse aqui um concurso, como fizeram na França, para apurar qual o verso mais bonito da nossa língua, talvez eu votasse naquele de Orestes em que ele diz: 'Tu pisavas os astros distraída... (trecho da música “Chão de estrelas”)’”.
Faltava um elogio, de mesmo quilate, para o cronista. Faltava, não falta mais. Pois o elogio veio, em tom confessional, de ninguém menos que Rubem Braga: “O primeiro cronista que me influenciou de fato, e me deu vontade de escrever crônicas, foi Orestes Barbosa”.
Tudo começou quando o repórter Darwin Brandão, atrás de notícia, saiu em busca de Orestes Barbosa, que andava sumido das mesas boêmias. Manuel Bandeira leu, viu o poeta risonho na varanda de sua casa em Paquetá e sentiu “saudades de seu passo de baliza, de suas roupas brancas impecáveis, de seus olhos claros de água-marinha”; “dos tempos do Nice, para não falar do Suíço”. Sentiu saudades e o beijou com o elogio consagrador.
A confissão de Rubem Braga sobre a influência de Orestes Barbosa veio no mesmo ano, 1956. Sendo que Rubem, por uma dessas coisas, publicou naquele que seria o dia da morte do cronista, 10 anos depois: 15 de agosto.
Rubem começou a colaborar em jornais muito cedo, em 1928, garante o acervo do escritor, digitalizado pela Casa Rui Barbosa. De modo que bem pode ter lido Orestes ainda nos anos 1920, quando este, na esteira de João do Rio e de Lima Barreto, se tornou nosso principal cronista. Com certeza foi mais um que se deixou encantar por “Samba”, de 1933, livro ágil e original, todo feito de microcrônicas separadas por asteriscos. Porque há vestígios de Orestes em Rubem.
Orestes Barbosa, menino de rua que aprendeu a ler nas calçadas em manchetes de jornais, que soltou papagaios gazeteiros e brincou de editar jornaizinhos, fez-se, de fato, repórter de polícia e cronista da cidade. Só mais tarde vieram as canções, feiticeiras e pungentes, ao lado de Chico Alves e Silvio Caldas, entre as quais “Chão de estrelas”. Mas, em seus momentos finais, o que vinha em seu delírio não eram canções: suspendia as pontas do pijama, imaginando que lia um jornal, seu sonho de menino.
Que seja, então, de palavras impressas em jornal nossa homenagem a Orestes Barbosa nos 50 anos sem ele. De palavras belas e sólidas, como as de Manuel Bandeira e Rubem Braga.