Em que mundo vive Ricardo Barros?
Ao maldizer que “homens trabalham mais do que mulheres”, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, espancou a realidade.
Aqui, a feminista Hildete Pereira de Melo, professora da UFF, especialista em trabalho e desigualdade de gênero, reage:
“As declarações do ministro da Saúde são retrógradas e mostram seu profundo desconhecimento das demandas femininas, além de ignorância de como este tema do trabalho das mulheres tem sido abordado pelas organizações internacionais (ONU, CEPAL). Em 2010, a CEPAL lançou uma resolução intitulada ‘Qué Estado, para qué igualdade’ que mostrava a disparidade das jornadas de trabalho na América Latina entre os dois sexos. Na Colômbia, por exemplo, as mulheres trabalham 63 horas semanais (pago e não pago); no Equador, 66; México, 86, e no Brasil, 58 horas semanais (2014). Os homens trabalharam 54 horas semanais na Colômbia; no Equador, 52; no México, 64, e no Brasil, 52 horas semanais (PNAD/IBGE, 2014).
Em todos os países, as jornadas do trabalho pago femininas são menores do que as masculinas e jornadas de trabalho não pago das mulheres são superiores às dos homens. A denúncia das organizações internacionais, da invisibilidade do trabalho das mulheres, que estas já colocavam como uma consigna internacional desde o início do século XX, foi abraçada nas últimas décadas depois das sucessivas reuniões internacionais — México, Nairobi, Beijing, Cairo, Viena, Belém do Pará — nas quais as mulheres bramaram aos quatro ventos pelo reconhecimento dos trabalhos de reprodução da vida. Estes se realizam no interior de suas casas, cuidando dos filhos e maridos, por ‘amor’ à sua família, e conflitam com o desejo de também terem uma vida profissional e sucesso na carreira escolhida, para além da maternidade.”