Hoje, completam-se 100 anos de nascimento da professora Cleonice Berardinelli. Aqui, seu ex-aluno, colega e presidente da ABL, Domicio Proença Filho, escreve sobre ela.
"Fui aluno de Cleonice Berardinelli, a Mestríssima, na gloriosa Faculdade Nacional de Filosofia da antiga Universidade do Brasil. Na mesma turma do meu fraterno amigo Zuenir Ventura. E Dona Cléo, como passamos a chamá-la carinhosamente, nos encantou com a sua bela juventude, o seu carisma e, especialmente, com a sua leitura personalíssima dos textos dos poetas. Ela sabia como poucos valorizar o som das palavras e o sentido dos poemas. E chega sabendo à plenitude dos seus 100 anos de vida.
Era um deslumbramento ouvi-la falar das cantigas medievais portuguesas, com as quais nos familiarizou. E, em especial, de Fernando Pessoa, poeta de sua devoção, que mobilizou nossa adesão. Não passava uma semana em que alguém não repetisse que “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. Cleonice foi seguramente a grande responsável pela repercussão da obra pessoana no Brasil.
Aos méritos excepcionais da professora e da crítica de literatura, associam-se os de incentivadora. Sobre essa qualidade, seja-me permitida uma referência de caráter pessoal. Aconteceu quando, já professor e seu colega na mesma faculdade e no curso de letras da PUC, ousei meu primeiro livro, centrado nos estilos de época da literatura. A sua generosidade presenteou-me com um prefácio para ninguém encontrar defeito. Parti tranquilo para a publicação. O livro chega agora à sua 20ª edição, com perto de cinquenta anos em catálogo.
O mais importante é que, para minha gratificação e orgulho, a atividade didática em várias instituições nos mantinha próximos. Depois, foram outros rumos. E veio a culminância do privilégio: reconviver mais proximamente com a Mestríssima, agora na ABL. Sua eleição era imperativa. Chegou, entrou e cativou. Para nós, seus alunos integrantes da Casa de Machado de Assis, não era novidade. Como não foi surpresa vê-la e ouvi-la nas sessões das quintas-feiras, com o mesmo encantamento provocado pelo seu dizer.
É o testemunho do seu discípulo agradecido, na festa dos seus 100 anos bem vividos e tão bem repartidos."