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Artigo: Michel Temer, um presidente meia-sola

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Presidente meia-sola

A maioria dos brasileiros recebeu com alívio a saída de Dilma. A alegria do povo não é maior porque na cadeira dela se senta Temer. Isto é fato. Os dois são sócios siameses no pouco afeto que se encerra no coração e na mente do país. Tanto que não se via, ontem, nas ruas, muito choro e vela pela saída da petista (pelo menos em quantidade de manifestantes), nem gozo ou júbilo por ele assumir de vez.

As multidões foram às ruas nas jornadas de 2015, levadas pela crise econômica e pela indignação com a roubalheira reveladas pela Lava-Jato. As ruas, então, foram tomadas por gente com nojo do PT e asco da classe política, a começar pelo PMDB do Temer, um partido que, com raras exceções, não tem vergonha na cara, a ponto de acoitar Eduardo Cunha.

Quer um exemplo? Se este movimento “Fora, Temer” não empolgou as massas até agora, uma resposta tipo “Fica, Temer” certamente teria um raquitismo popular ainda maior. Aliás, a turma do “Fora” pode ainda se dar ao luxo de contar com Chico Buarque, enquanto o pessoal do “Fica”, se existisse, teria que se conformar com Alexandre Frota.

Além disso, Temer pouco fez como interino para melhorar sua biografia. Montou um ministério pífio — como, aliás, foram os de Dilma. Até a estrela da companhia, Henrique Meirelles, parece ceder à pressão por aumentos de gastos com o pessoal, inclusive do Judiciário, mesmo com os cofres vazios. Até agora, foi um governo meia-sola, acho.

É verdade que, nestes 112 dias, Temer acalmou os investidores — o que não é pouco para um país que anda que nem caranguejo. É verdade também que o Executivo reatou relações diplomáticas com o Congresso, algo essencial num regime democrático.

É verdade, finalmente, que ele podia justificar o, digamos, “toma lá, dá cá”, até agora, pela necessidade imperiosa de cooptar um número de senadores suficiente para garantir o bota-fora de Dilma.

A desculpa acabou. Tomara que, a partir de hoje, o governo tome tenência e se reencontre com as ruas. Vamos torcer, vamos cobrar.

(Artigo publicado em O GLOBO na edição de 01/09/2016)

Michel Temer


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