Não é só no Brasil que a eleição municipal tem uma rota própria que vai até mesmo, às vezes, na contramão do fluxo político nacional. Em Brasília, um furacão de grandes proporções, como o atual, costuma perder intensidade nas pelejas locais — mesmo que faça algum estrago. O que no país é uma pneumonia na província pode ser uma gripe. Afinal, como dizia o ex-ministro Hélio Beltrão (1916-1997), pai da coleguinha Maria Beltrão, “o homem comum mora no município, ninguém mora no governo federal”. O protagonismo é do tema local. Neste caso, o eleitor é sábio.
E, no Rio, há um agravante: PT e PSDB, que disputaram pau a pau as cinco últimas eleições presidenciais, são partidos nanicos por aqui. Os petistas não têm candidato próprio a prefeito desde 2008, quando lançaram o deputado Alessandro Molon, que hoje postula o mesmo cargo, mas pela Rede, de Marina Silva. Numa época em que Lula tinha seu governo aprovado por 70% da população, Molon obteve apenas 4,97% dos votos. No Palácio Pedro Ernesto, o PT tem, hoje, quatro vereadores num total de 51.
A situação do PSDB é ainda pior, tadinho. No último pleito, elegeu só dois vereadores, e seu candidato na época a prefeito, o deputado federal Otavio Leite, abocanhou minguados 2,47% dos votos. Em outubro, agora, o partido vem também com candidato próprio, o deputado Carlos Roberto Osorio. É tucano novo no ninho. Deixou o PMDB em fevereiro porque a legenda fechou com Pedro Paulo. Desconfio que parte dos eleitores não sabe qual é o seu partido atual.
Este raciocínio “gigante nacional, anão local” não vale para o PMDB, no poder carioca há oito anos. É que o partido é apenas uma marca, uma grife, cujos franqueados regionais têm autonomia total e fazem o que lhes dá na veneta.
Não chega a ser uma jabuticaba, mas o Rio tem sido laboratório de alguns movimentos políticos robustos por aqui e molengas em outras paragens.
Nos anos 1970, na cauda da redemocratização, veio com ímpeto o brizolismo. Mas Leonel Brizola (1922-2004) não empolgava fora do Rio e do Rio Grande do Sul. Nessa mesma época, alguns anistiados, como Fernando Gabeira e Carlos Minc, plantaram por aqui a ideia do Partido Verde, tão em voga, então, na Europa. Mas, fora do Rio, os ecolibertários não tiveram a mesma colheita.
Hoje, há o exemplo do PSOL. Nascido de uma costela honrada do PT, o partido de Chico Alencar e Marcelo Freixo tem uma pujança desproporcional no Rio em relação ao resto do país. E, finalmente — embora uma coisa nada tenha a ver com a outra —, há o projeto que mistura religião e política, da Igreja Universal, cuja força eleitoral local não é desprezível. Mas isso é outra história.