Velha como a Sé de Braga, a maldade de espalhar balão de ensaio contra adversários políticos ganhou um nome novo: “pós-verdade”, com direito à suprema honra de ser a palavra do ano (post-truth), eleita pela universidade de Oxford. O que mudou mesmo — e muito — foi a velocidade de foguete que esse tipo de boato, em que a crença pessoal se sobrepõe quase sempre à verdade, ganhou com o advento das redes sociais e suas infinitas capacidade de transportar leviandades. Aqui, alguns exemplos locais:
- Na eleição de 1945, historiadores atribuíram em parte a derrota de Eduardo Gomes para Eurico Dutra a uma “pós-verdade” espalhada contra o brigadeiro, nas rádios e em panfletos, de que ele não queria o voto dos pobres ou marmiteiros, como se dizia então. Tratou-se de uma baita distorção do discurso de Gomes, operada por Hugo Borghi, dirigente do PTB que apoiava o general. Estrago feito, restava aos sambistas tirar um sarro, como o fez Valdomiro Lobo: “Vamos entrar pro cordão dos marmiteiros /E quem não tiver pandeiro/Na marmita vai tocar/E quem não tocar/Quá, quá, quá”.
- No primeiro governo FH, de 1994 a 1997, foi implantado o programa de vacinação do idoso. Foi neste contexto que surgiu uma lenda urbana, espalhada de boca em boca, notadamente nas comunidades mais pobres, de que o que o tucano queria mesmo “era matar os velhinhos” com a tal vacina. É que, na época, já se discutia a Reforma da Previdência — que, aliás, está emperrada até hoje.
- É comum nas redes sociais chamarem Lula de comunista. O desvario é estimulado por Bolsonaro, que sonha em ser o Trump brasileiro. Só que os defeitos do petista são outros. Afinal, não seria num governo soviético que os bancos lucrariam R$ 279,9 bilhões, contra R$ 34,4 bilhões nos oito anos de mandato de FH; ou seja, oito vezes mais.
- E, finalmente, a última eleição municipal carioca foi pródiga em “pós-verdades” na internet. Uma das crueldades espalhadas nas redes e nos templos contra Freixo é que ele teria afirmado, veja só a estupidez, a frase: “Quando for assaltado, aceite, pois o bandido é uma vítima da sociedade”. No caso de Crivella, o bispo teria dito, olha o absurdo, que “os negros só gostam de cachaça, prostíbulo e macumba”.