O vento leste do Carcará
O compositor pernambucano Luís Vieira, 88 anos, autor de “Menino de Braçanã”, conta que seu parceiro, o maranhense João do Vale (1934-1996), que era semianalfabeto, depois do sucesso de “Carcará” começou a frequentar a elite da MPB e achou que devia usar palavras difíceis nas letras. Vieira discordou: “Só escreva sobre o que você conhece!”, ralhou.
Até que João surgiu com a letra da obra prima “Na asa do vento”, aquela diz: “Deu meia noite/a lua faz o claro/eu assubo nos aro/vou brincar no vento leste”. Vieira quis saber onde João tinha encontrado aquele “vento leste”. E o parceiro: “De noite, liguei o rádio na ‘Hora do Brasil’ e ouvi: ‘Aviso aos navegantes: vento leste soprando pra sudoeste’”.
A história está em “MPBambas — Histórias e memórias da canção brasileira”, que o coleguinha Tarik de Souza lança amanhã, pela Kuarup, e parece dar razão a um mestre da minha terra que dizia: “Eu prefiro quem diz ‘nós vai’ e vai, do que quem fala ‘nós vamos’ e não vai”.