A reforma que abalou o mundo
Em 2017, completam-se 500 anos desde que o alemão Martinho Lutero (1483-1546) desencadeou uma revolução religiosa. Aqui, a coleguinha Miriam Leitão, filha de um pastor presbiteriano, explica a importância dessa história:
“Como em toda revolução, o ato inicial da Reforma Protestante foi feito sem que o padre e professor Martinho Lutero tivesse a noção da dimensão das transformações das quais aquele momento seria o marco inaugural. Ele queria o debate. E, por isso, afixou suas 95 teses na porta da Igreja de Wittenberg, num texto em que convidava quem não pudesse estar presente a apresentar suas ideias por escrito. A Igreja Católica passara a conceder o perdão mediante contribuições financeiras. Lutero considerava que isso era venda do perdão, o qual só poderia ser concedido por Deus diante do arrependimento e da fé. Eram curtas, as teses de Lutero, mas profundas. Como a de número 76: ‘As indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados veniais.’ Foi o começo do fim de uma era.
Em 2017, o ato de Lutero faz 500 anos. A sucessão dos eventos foi avassaladora. Ele contestava o poder do Papa quando o mundo queria discutir a separação entre a Igreja e o Estado, e os países exigiam autonomia nacional. Lutero combatia a ideia de que só os sacerdotes podiam interpretar o texto sagrado e, por isso, traduziu a Bíblia para disseminá-la. Com a invenção do tipo móvel por Johannes Gutenberg, estava aberta a possibilidade de impressão em grande escala. Para que as ideias avançassem pela Europa, era preciso que houvesse mais leitores, e isso alavancou os movimentos de alfabetização dos fiéis. O mundo foi mudando. A própria Igreja Católica passou por mudanças a partir dali. Desafiada, ela encontrou o caminho de se fortalecer na Contrarreforma.
Apesar de ter nascido de uma discussão teológica e doutrinária, a Reforma é, sobretudo, uma efeméride laica porque representou valores universais que marcaram o fim da Idade Média e prenunciaram o Iluminismo.
Com meu pai, conversava ainda menina sobre a Reforma, mas, apesar de ser um tempo de maior distância entre as religiões, ele não a apresentava como uma ideologia anticatólica, mas como um momento de avanço do mundo das ideias. Afinal, para os protestantes, Lutero não é santo. Foi apenas um homem que contestou o poder vigente e, naquele momento, ajudou a abrir as janelas para uma nova forma de pensar.
Por ter tido educação protestante, nunca achei que 31 de outubro é o dia das bruxas. Sempre foi o dia em que Lutero, em 1517, começou uma revolução”.