Daniel Adjafre, autor da deliciosa novela “Deus salve o rei”, diz sempre que a trama tem referências universais, da História e da literatura, “mas é uma ficção, sem nenhum rigor histórico.”
Porém, veja só. No capítulo de sexta, o patriarca da fé não quis anular o casamento do rei Rodolfo (Johnny Massaro) com Lucrécia (Tatá Werneck). Para conseguir se unir a Catarina (Bruna Marquezine), Rodolfo deu uma de rei Henrique VIII, que, em 1527, fundou sua própria igreja.
A trama medieval, que brinca com os códigos atuais, como o pedágio, também guarda algumas semelhanças com a História do Brasil. A começar por Afonso (Rômulo Estrela, na imagem de cima), o rei de Montemor, que abdica do trono em favor de seu irmão Rodolfo para poder casar com a plebeia Amália (Marina Ruy Barbosa).
Por aqui, o príncipe Dom Pedro de Alcântara de Orléans e Bragança (1875-1940) também teve, em 1908, que renunciar à linha sucessória em favor de seu irmão Luís Maria Filipe de Orléans e Bragança (1878-1920) para se casar com Elisabeth de Dobrezenicz, que não tinha ascendência real. Aliás, esse episódio mexeu muito com a mãe dos dois, a princesa Isabel. Como recorda a querida historiadora Mary Del Priore, a princesa Isabel escreveu ao Diretório Monarquista do Rio dizendo: “Pedro continuará a amar a sua pátria e prestará a seu irmão todo o apoio que for necessário e estiver a seu alcance.”
Há ainda semelhanças entre Teresa Cristina (1822-1889), imperatriz consorte do Império Brasileiro, e a personagem Lucrécia da novela. O rei Rodolfo, da cenográfica Montemor, procura uma noiva. Recusa propostas até que recebe um retrato pintado de Lucrécia. Só que descobre mais tarde, pessoalmente, que a princesa era bem diferente da mulher retratada na bela pintura. Teresa Cristina se casou por procuração, em 1843, em Nápoles, onde nasceu, com Dom Pedro II. Ele também só a conhecia por retrato. Na imagem, uma esplêndida morena mirava o interlocutor. Só que a pintura não correspondia à realidade. Foi uma ducha gelada quando finalmente o imperador conheceu a princesa no convés do navio que a trouxe da Itália. A imperatriz era, segundo a imprensa, “um anjo de bondade”, mas, fisicamente, “um desastre”, prossegue Del Priore. De volta ao palácio, D. Pedro chorava: “Me enganaram!”.