Bisneto da Princesa Isabel, trineto de Dom Pedro II e tetraneto de Dom Pedro I, o empresário e fotógrafo Dom João de Orleans e Bragança, 62 anos, vive em Paraty e desde a primeira Flip, em 2003, recepciona os escritores e convidados da festa literária com carinho que a todos impressiona. Republicano nos moldes das monarquias europeias e de profundas convicções democráticas, aqui ele aborda com entusiasmo o legado da Flip, cuja 14ª edição começa quarta, para a cidade fluminense.
“Paraty se preservou cultural e ambientalmente graças à distância dos grandes Rio e São Paulo e à cortina verde da Serra do Mar que, pelo difícil acesso, fez com que a cidade mantivesse sua identidade através de inúmeras manifestações populares e religiosas. Salvou-se também da ocupação imobiliária desordenada. Por estar perto de cerca de 30 milhões de habitantes dos grandes centros, a comunidade, o Iphan e órgãos ambientais protegem e tentam manter este município onde a cultura e a natureza são o grande atrativo turístico e que geram renda e emprego. A cidade sempre recebeu e viveu a cultura. Nos anos 1970, intelectuais como Nelson Pereira dos Santos filmavam em Paraty e se entrosavam com os caiçaras que faziam parte das filmagens. A pintora Djanira morava e pintava em Paraty. Paulo Autran inaugurou em 1968 a primeira pousada da cidade. A Flip, hoje, é a grande âncora de todos os eventos culturais da cidade, que tem um movimentado calendário com jazz, fotografia, música latina, arte, cerâmica e outros. A Flip não aumentou seu formato nos últimos 10 anos, mas gerou vários eventos paralelos espalhados pela cidade com debates, exposições e a Flipinha para incentivar e mostrar a leitura principalmente para as crianças da comunidade. Começou com literatura, como o nome indica, e abraçou o jornalismo, a filosofia, a história, o cinema, a poesia, a arquitetura, a arte, a religião, a política, o sexo e tudo que estiver na pauta do interesse e da atualidade. Transformou-se em um centro de debates. A cidade ganhou visibilidade nacional e internacional e, hoje, pode-se dizer que não tem baixa estação. O turismo é o maior gerador de renda. A comunidade não perdeu sua identidade, que é uma das maiores riquezas que se mantêm. O desafio é crescer com sustentabilidade e preservação e não perder este jeito de cidade do interior, onde os conhecidos ainda se cumprimentam quando se cruzam.”