A morte de Martin Luther King
No dia 4, agora, o assassinato do reverendo Martin Luther King, o grande líder da luta pelos direitos civis dos negros nos EUA, completa 50 anos. A coluna convidou o escritor Carlos Alberto Medeiros, o tradutor de “A autobiografia de Martin Luther King”, a traçar paralelos entre o racismo por aqui e na terra de King
“A partir do fim da década de 1960, a visão do Brasil como uma espécie de ‘paraíso racial’, ao contrário dos EUA, considerados a expressão máxima do racismo, começou a entrar num processo de reversão. Com o fim da segregação e as significativas conquistas obtidas pelo movimento dos direitos civis, liderada por Martin Luther King, os EUA passaram a ocupar — ao menos para a militância negra e seus aliados na academia, na mídia, nos partidos políticos e no mundo sindical — o papel de paradigma, não da igualdade racial, mas da luta contra o racismo.
Na visão de estudiosos, estaria havendo, em função disso, uma ‘americanização’ da sociedade brasileira, exemplificada pela adoção de políticas de ação afirmativa (principal avanço dos afro-brasileiros nos últimos anos), simultaneamente a uma ‘brasilianização’ da sociedade americana, em que o preconceito estaria se tornando menos explícito.
Esse tipo de comparação é, na verdade, um exercício complexo, cheio de armadilhas, embora útil por nos fazer questionar os valores e verdades inculcados por nossa própria cultura. Numa visão sumária, poderíamos dizer que existe no Brasil menos animosidade racial, enquanto os Estados Unidos oferecem aos negros maiores oportunidades de ascensão socioeconômica, o que se evidencia pela existência de 35 mil milionários afro-americanos, na maioria empresários, além de altos executivos de grandes corporações, simbolizando o grande avanço obtido nas últimas décadas.
Mas alguns aspectos das duas realidades são bastante semelhantes, como se evidencia nos tristemente frequentes assassinatos, por policiais, de jovens negros desarmados, cruel exemplo da violência a que são submetidos os negros nos dois países, cuja superação é o desafio mais urgente a ser enfrentado.
Aqui e lá.”