Diante da incerteza natural sobre seu futuro pessoal e eleitoral e somando o peso da idade (72 anos), Lula aproveitou os 55 minutos de sua fala, no ABC, sábado, para deixar uma espécie de testamento político, que lembra, como se sabe, em alguns momentos, a carta-testamento que Getulio Vargas escreveu, em 1954.
Mas a carta de Lula é o avesso de outra carta, a dirigida aos brasileiros, em 2002, pouco antes de ser eleito presidente da República. Na missiva de então, ele dizia, em outras palavras, que seria, no governo, o pai dos pobres e amigo dos ricos, como de fato foi por muito tempo.
Já no sábado, o ex-presidente falou que não há mais lugar para “os de gravatinha, que iam atrás de mim e que agora desapareceram”. Empurrado pelas circunstâncias, diga-se a seu favor, ele retoma o discurso radical do final dos anos 1970.
Os seus amigos agora são os companheiros “que nunca o abandonaram” e que, no passado, iam com ele tomar caldo de mocotó e comer rabada na Cantina do Zelão, que existe até hoje, em São Bernardo do Campo.
Retratos da vida.